Conscientização sobre Protetores Solares Convencionais

Filtros Solares e seu Contexto Atual: Uma Análise Abrangente
Não é de hoje que convivemos com propagandas sobre a necessidade do uso de protetores solares para proteger nossa pele dos tão temidos raios ultravioletas e tantos outros malefícios da exposição ao sol. Ainda mais nós brasileiros, que vivemos em um país banhado por um litoral de norte a sul, com frequentação intensa das praias e muitas práticas e costumes voltados à alta exposição ao sol. Talvez tanto você quanto eu tenhamos crescido ouvindo a música que ficou famosa pela voz do jornalista Pedro Bial: “Filtro Solar”, que enaltece a necessidade do uso do filtro. Contudo, muito mais importante do que o simples uso do filtro (isso quando ele for realmente necessário) pois o nosso astro rei trás muito mais benefícios que prejuízos para nossa espécie, seria nos conscientizarmos sobre a necessidade de qual tipo de filtro solar usar e como utilizar esse tipo de produto.
Substâncias Químicas nos Protetores e relação com a Alimentação Industrializada
Muitos filtros solares tradicionais contêm substâncias químicas como oxibenzona, octinoxato, avobenzona, entre outras, que têm sido ligadas a distúrbios hormonais e outros problemas de saúde. Pesquisas indicam que esses compostos podem ser absorvidos pela pele e permanecer na corrente sanguínea por vários dias. Em acréscimo, a exposição prolongada a esses ingredientes pode contribuir para o surgimento de manchas na pele e aumentar o risco de câncer.
E muito além disso, nossa dieta contemporânea, abundante em alimentos industrializados e açúcares, pode resultar na geração de toxinas que são expelidas pelo suor e pela pele. Essas toxinas entram em contato com os compostos químicos dos filtros solares, podendo surgir reações adversas que comprometem ainda mais a saúde da pele. Portanto, é crucial manter uma alimentação balanceada e nutritiva para reduzir a produção de toxinas e melhorar a saúde geral da pele.
A Ciência por Trás da Absorção de Químicos pela Pele
Estudos recentes têm mostrado que a pele, nosso maior órgão, é mais permeável do que se imaginava. Isso significa que substâncias químicas aplicadas topicamente, como as encontradas em protetores solares, podem penetrar nas camadas mais profundas da derme e até mesmo atingir a corrente sanguínea. Uma pesquisa publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA) em 2019 revelou que ingredientes como a oxibenzona podem ser detectados no sangue em níveis significativos após apenas um dia de uso.
Essa absorção é preocupante, especialmente quando consideramos o uso diário e prolongado de protetores solares, que é recomendado por dermatologistas. A oxibenzona, por exemplo, tem sido associada a alterações endócrinas, que podem afetar o sistema hormonal, levando a problemas como infertilidade, puberdade precoce e até mesmo certos tipos de câncer.
A Conexão entre Alimentação e Saúde da Pele
A relação entre dieta e saúde da pele é um campo de estudo que tem ganhado cada vez mais atenção. Alimentos processados, ricos em açúcares e gorduras trans, podem levar a um estado de inflamação crônica no corpo, o que pode se manifestar na pele como acne, eczema e outras condições dermatológicas. Além disso, a ingestão de antioxidantes, encontrados em frutas e vegetais, pode ajudar a neutralizar os radicais livres gerados pela exposição ao sol, reduzindo o dano celular e o envelhecimento precoce.
Portanto, além de escolher um protetor solar adequado, é essencial adotar uma dieta rica em nutrientes que suportem a saúde da pele. Alimentos como cenouras, espinafre, frutas vermelhas e nozes são excelentes fontes de vitaminas e minerais que promovem a regeneração celular e protegem contra os danos causados pelos raios UV.
Ameaça ao Equilíbrio Ambiental
Adicionalmente à preocupação com a saúde da nossa pele, cientistas também descobriram que alguns dos produtos químicos encontrados em protetores solares e outros produtos de saúde pessoal ameaçam o equilíbrio ambiental dos oceanos, mais especificamente a saúde dos recifes de corais. Em agosto de 2022, a Academia Nacional de Ciências dos EUA publicou um estudo que revisa a abrangência dos estudos científicos sobre o uso de ingredientes de protetores solares e seus impactos ambientais. O estudo concluiu que filtros UV específicos encontrados em protetores solares químicos podem prejudicar a vida aquática, incluindo corais, afetando o equilíbrio ambiental desses ecossistemas, contribuindo inclusive para o aquecimento global.
O Impacto dos Protetores Solares nos Recifes de Corais
Os recifes de corais são ecossistemas marinhos extremamente sensíveis e vitais para a biodiversidade dos oceanos. Eles abrigam uma infinidade de espécies marinhas e desempenham um papel crucial na proteção das costas contra a erosão. No entanto, os corais estão sob ameaça devido a uma combinação de fatores, incluindo a poluição, o aumento da temperatura dos oceanos e a acidificação das águas.
Os agentes químicos presentes em muitos protetores solares, como a oxibenzona e o octinoxato, têm sido identificados como contribuintes para o branqueamento dos corais. Desta maneira o branqueamento ocorre quando os corais expulsam as algas simbióticas que vivem em seus tecidos, levando à perda de cor e, eventualmente, à morte do coral. Estima-se que cerca de 14.000 toneladas de protetor solar são liberadas nos oceanos anualmente, com impactos devastadores para os recifes de corais.
Medidas Globais para Proteger os Recifes de Corais
Não por acaso, países como a Tailândia, Havaí, as Ilhas Virgens Americanas, algumas reservas de ecoturismo no México e até algumas praias do Brasil, como a praia do Atalaia em Fernando de Noronha, baniram o uso de protetores solares em muitas de suas praias e paraísos naturais. Essas medidas visam proteger os ecossistemas marinhos e promover o uso de alternativas mais seguras para o meio ambiente.
Alternativas aos Protetores Solares Convencionais
Atualmente, muito se tem falado sobre alternativas aos protetores solares convencionais, através da utilização de produtos naturais como o óleo de coco e o óleo de mamona, por exemplo. No entanto, estes produtos naturais possuem fatores de proteção solar (FPS) limitados, fato que restringe a sua eficiência para este propósito, sobretudo se somado à longa exposição à luz solar.
Protetores Solares Minerais: Uma Alternativa Segura
Neste contexto, os protetores solares minerais, na sua grande maioria feitos à base de óxido de zinco e sem parabenos, que não utilizam filtros UV químicos, são considerados uma grande alternativa, pois têm menos efeitos sobre os organismos aquáticos. Esses protetores funcionam criando uma barreira física na superfície da pele que reflete e dispersa os raios UV, ao invés de absorvê-los.
Além de serem mais seguros para o meio ambiente, os protetores solares minerais são geralmente mais adequados para peles sensíveis, pois são menos propensos a causar irritações ou reações alérgicas. Eles também tendem a ser mais estáveis sob a luz solar, o que significa que não se degradam tão rapidamente quanto os protetores químicos.
A Importância de Acessórios e Roupas de Proteção
E é claro que a conscientização sobre o uso de acessórios e roupas, bem como evitar a exposição prolongada nos horários mais danosos (das 10h às 14h), é sempre uma atitude que contribui e muito para evitar maiores danos à nossa pele. Chapéus de abas largas, óculos de sol com proteção UV e roupas com fator de proteção ultravioleta (FPU) são excelentes complementos ao uso de protetores solares.
Conscientização e escolhas
O uso de protetores solares é essencial para proteger a pele dos danos causados pelos raios UV, mas é igualmente importante estar ciente dos impactos que esses produtos podem ter na nossa saúde e no meio ambiente. A escolha de protetores solares minerais, a adoção de uma dieta saudável e o uso de acessórios de proteção são medidas que podem ajudar a minimizar os riscos associados à exposição solar.
Além disso, a conscientização sobre os impactos ambientais dos protetores solares tradicionais e a adoção de práticas mais sustentáveis são passos cruciais para proteger nossos oceanos e a vida marinha. Ao fazer escolhas informadas e responsáveis, podemos desfrutar do sol de forma segura, enquanto cuidamos da nossa saúde e do planeta.
REFERÊNCIAS:
- 01 – American Academy of Dermatology (AAD). (2023). Sunscreen FAQs. Disponível em: https://www.aad.org.
- 02 – National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). (2022). Coral Reef Conservation Program: Sunscreen Chemicals and Coral Reefs. Disponível em: https://www.noaa.gov.
- 03 – Journal of the American Medical Association (JAMA). (2019). Effect of Sunscreen Application on Plasma Concentration of Sunscreen Active Ingredients. Disponível em: https://jamanetwork.com.
- 04 – National Academy of Sciences (NAS). (2022). Review of the Environmental Impacts of Sunscreen Ingredients. Disponível em: https://www.nasonline.org.
- 05 – Environmental Working Group (EWG). (2023). Guide to Sunscreens. Disponível em: https://www.ewg.org.
- 06 – Food and Drug Administration (FDA). (2021). Sunscreen: How to Help Protect Your Skin from the Sun. Disponível em: https://www.fda.gov.
- 07 – World Wildlife Fund (WWF). (2022). The Impact of Sunscreen on Marine Life. Disponível em: https://www.worldwildlife.org.
- 08 – Harvard Health Publishing. (2023). The Best Sunscreens for Your Skin and the Environment. Disponível em: https://www.health.harvard.edu.
- 09 – Brazilian Society of Dermatology (SBD). (2023). Recomendações para Fotoproteção. Disponível em: https://www.sbd.org.br.
- 10 – Scientific Reports. (2021). Dietary Influence on Skin Health: The Role of Antioxidants and Anti-Inflammatory Foods. Disponível em: https://www.nature.com/srep.