Tratamentos para Síndrome do Intestino Irritável: uma abordagem natural

Alimentação
Sistema digestivo do Corpo Humano
Imagem Ilustrativa: Sistema digestivo do Corpo Humano

O que é a Síndrome do Intestino Irritável (SII)

A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é um distúrbio funcional do sistema digestivo que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Caracteriza-se por sintomas como dor abdominal, distensão, diarreia e/ou prisão de ventre, sem lesões orgânicas identificáveis. Sua origem é multifatorial, envolvendo desequilíbrios na microbiota intestinal, aumento da permeabilidade intestinal (“intestino permeável”), estresse crônico e hábitos alimentares inadequados. Neste artigo, discutiremos as causas e sintomas da SII, confrontando os tratamentos para síndrome do intestino irritável : os protocolos convencionais versus as abordagens naturais, com ênfase na reformulação dietética.

Além disso, exploraremos o impacto do álcool, uso recorrente de medicamentos e dos alimentos industrializados na saúde intestinal, bem como os benefícios emergentes da dieta carnívora, da dieta cetogênica e do jejum no reequilíbrio do microbioma e na redução da inflamação.


Causas da Síndrome do Intestino Irritável (SII)

A SII é influenciada por diversos fatores inter-relacionados:

  1. Desequilíbrio da microbiota intestinal (disbiose) – O excesso de bactérias patogênicas e a redução de bactérias benéficas (como Bifidobacterium e Lactobacillus) podem desencadear inflamação e alterações na motilidade (movimento dos músculos) intestinal.
  2. Permeabilidade intestinal aumentada (“leaky gut”) – O comprometimento da barreira intestinal permite a passagem de toxinas e partículas mal digeridas para a corrente sanguínea, ativando respostas imunes e inflamatórias.
  3. Hipersensibilidade visceral – Pacientes com SII frequentemente apresentam maior sensibilidade à dor e distensão abdominal devido a alterações na comunicação nervosa entre o intestino e o cérebro.
  4. Fatores psicológicos – Estresse, ansiedade e depressão exacerbam os sintomas devido ao eixo cérebro-intestino, que conecta o sistema nervoso central ao funcionamento digestivo.
  5. Alimentação inadequada – Dietas ricas em alimentos ultraprocessados, açúcares refinados, aditivos químicos e gorduras inflamatórias (óleos vegetais industrializados como óleo de soja e milho) contribuem para a disbiose e a inflamação crônica.
  6. Uso reiterado de Medicamentos – O uso abusivo e o excesso de medicamentos prescritos pela medicina alopática tem desencadeado diversos efeitos colaterais.

Sintomas da SII

Os sintomas variam, mas os mais comuns incluem:

  • Dor e desconforto abdominal (geralmente aliviados após a evacuação)
  • Alterações no hábito intestinal (diarreia, constipação ou alternância entre ambos)
  • Distensão abdominal e excesso de gases
  • Sensação de evacuação incompleta
  • Muco nas fezes

Tratamentos Convencionais vs. Abordagens Naturais

A medicina tradicional busca aliviar os sintomas com medicamentos, como:

  • Antiespasmódicos (para reduzir cólicas intestinais)
  • Laxantes ou antidiarreicos (conforme o sintoma predominante)
  • Probióticos farmacêuticos (para modular a microbiota)
  • Antidepressivos em baixa dose (para reduzir a hipersensibilidade visceral)

Embora esses tratamentos possam trazer alívio temporário, muitas vezes não abordam a causa raiz do problema, como desequilíbrios nutricionais e inflamação crônica.

Abordagens integrativas focam na restauração da saúde intestinal através de estratégias alimentares e de estilo de vida efetivamente saudável:

a) Dietas de Baixo Carboidrato: Carnívora e Cetogênica

Estudos recentes sugerem que dietas muito baixas em carboidratos, como a dieta carnívora e a cetogênica, podem beneficiar pacientes com SII devido a:

  • Redução de FODMAPs: Ambos os regimes eliminam carboidratos fermentáveis que alimentam bactérias patogênicas.
  • Diminuição da inflamação: A cetose (estado metabólico induzido pela dieta cetogênica) reduz marcadores inflamatórios como IL-6 e TNF-α.
  • Seletividade microbiana: Dietas ricas em gordura animal e proteína favorecem bactérias anti-inflamatórias (como Akkermansia muciniphila) e reduzem espécies produtoras de endotoxinas.
  • Melhora da barreira intestinal: O aumento do consumo de gorduras saudáveis (ômega-3, butirato, óleo de coco, banha de porco) ajuda a reparar a mucosa intestinal.

b) Jejum Intermitente e Autofagia :

O jejum intermitente (como protocolos 16:8 h ou jejum de 24h) pode auxiliar no reequilíbrio intestinal através de:

  • Redução da carga digestiva: Permite o repouso do trato gastrointestinal, diminuindo a fermentação excessiva.
  • Ativação da autofagia: Processo de “limpeza celular” que remove bactérias disbióticas e regenera o epitélio intestinal.
  • Modulação do microbioma: Estudos indicam que ciclos de jejum promovem a diversidade bacteriana benéfica.

c) Nutrição Anti-inflamatória e Eliminação de Alimentos Problemáticos :
  • Dieta Low FODMAP – Reduz carboidratos fermentáveis (lactose, frutose, polióis) que exacerbam sintomas.
  • Eliminação de glúten e laticínios – Muitos pacientes têm sensibilidade não celíaca ao glúten ou intolerância à caseína.
  • Aumento de fibras solúveis (como psyllium , ervilha, arroz, batata doce) para regular o trânsito intestinal sem fermentação excessiva.

d) Manejo do Estresse e Saúde Mental :
  • Técnicas de relaxamento (meditação, respiração diafragmática) para modular o eixo cérebro-intestino.

O Impacto do Álcool, Medicamentos e dos Alimentos Industrializados

alimentos industrializados, bebidas alcoólicas e medicamentos.
Imagem Ilustrativa: Mesa de refeição com alimentos industrializados, bebidas alcoólicas e medicamentos.

O consumo excessivo de álcool , uso de Medicamentos de forma reiterada e dos alimentos ultraprocessados está diretamente ligado à piora da SII:

  • –> Álcool:
    • Aumenta a permeabilidade intestinal, permitindo a passagem de endotoxinas bacterianas (como LPS) para a corrente sanguínea.
    • Altera a microbiota, reduzindo bactérias benéficas (Lactobacillus) e aumentando patógenos (Enterobacteriaceae).
    • Desidrata a mucosa intestinal e piora a motilidade.
  • –> Antibióticos:
    • Alteram profundamente a composição da microbiota por meses ou anos após o uso
    • Reduzem a diversidade bacteriana, favorecendo colonização por Clostridium difficile e outras espécies patogênicas
    • Um Estudo de 2022 (Nature Microbiology) associou uso recorrente de antibióticos a risco 3x maior de desenvolver SII
  • –> Antidepressivos (ISRS e Tricíclicos): Embora prescritos para aliviar sintomas da SII, seu uso prolongado pode:
    • Alterar a motilidade intestinal
    • Reduzir a produção de ácido gástrico (aumentando risco de SIBO)
    • Modificar a composição da microbiota (Journal of Psychopharmacology, 2021)
  • –> Anti-inflamatórios Não Esteroides (AINEs):
    • Aumentam a permeabilidade intestinal em 72 horas de uso contínuo
    • Danificam a camada de muco protetor, predispondo à inflamação
  • Alimentos Industrializados:
    • Emulsificantes (carboximetilcelulose, polissorbato-80) danificam o epitélio intestinal e promovem inflamação.
    • Excesso de açúcar e óleos vegetais refinados (ômega-6) alimentam bactérias produtoras de gases e toxinas.

Abordagens Terapêuticas Integrativas

– Desintoxicação e Reparo Medicamentoso
  • Protocolos de descontinuação gradual de antidepressivos e AINEs (com acompanhamento)
  • Uso de carvão ativado e argilas medicinais para absorção de toxinas
  • Glutamina (15-30g/dia) para reparo da barreira intestinal

– Modulação Microbiana Avançada
  • Transplante de Microbiota Fecal (TMF): mostrou eficácia em 56% dos casos refratários (Clinical Gastroenterology, 2023)
  • Prebióticos seletivos (GOS, lactulose) para estimular Bifidobacterium
  • Probióticos como Lactobacilos , kombucha e Kefir
  • Fitoterápicos antimicrobianos (berberina, óleo de orégano) como alternativa a antibióticos

Objetivo: Redução rápida da dor abdominal, distensão e alterações do trânsito intestinal através de estratégias naturais (água alcalina com sal, fitoterapia e dieta cetogênica).

—> 1. Água Alcalina com Sal (Protocolo de Hidratação e Alcalinização)

Indicação: Crises de dor, distensão ou diarreia.
Mecanismo de Ação:

  • Equilíbrio eletrolítico: Repõe sódio e minerais, melhorando a função intestinal.
  • Redução da acidez: Ajuda a acalmar a mucosa inflamada.
  • Melhora da motilidade: Regula o peristaltismo em casos de diarreia ou constipação.

Preparo e Uso:

  • 500 mL de água filtrada morna
  • 1/2 colher (chá) de sal rosa do Himalaia ou sal marinho não refinado
  • Suco de 1/2 limão (opcional, para alcalinizar)
  • Tomar aos poucos ao longo de 1 hora

Frequência:

  • Crises agudas: 2x/dia (manhã e noite) por 2–3 dias.
  • Manutenção: 1x/dia em jejum (prevenção).

—> 2. Chás Medicinais

Seleção de Ervas (Escolher conforme sintoma predominante):

SintomaChá Recomendado
Dor e EspasmosHortelã-pimenta (óleo ou chá)
AçãoPreparo
Antiespasmódico (relaxa a musculatura intestinal)1 colher (sopa) de folhas frescas em 200mL de água quente (abafar 10 min)
SintomaChá Recomendado
DiarreiaChá preto + gengibre
AçãoPreparo
Taninos adstringentes + ação antibacterianaantibacteriana
1 saquinho de chá preto + 1 rodela de gengibre em 200mL (3–5 min de infusão)
SintomaChá Recomendado
ConstipaçãoSene + erva-doce
AçãoPreparo
Estimula suavemente o trânsito intestinal (evitar uso crônico)1 colher (chá) de sene + 1 de erva-doce em 200mL (5 min)
SintomaChá Recomendado
InflamaçãoCamomila + cúrcuma
AçãoPreparo

Anti-inflamatório e reparador da mucosa
1 colher (sopa) de camomila + 1/2 colher (chá) de cúrcuma em pó em 200mL (10 min)

Posologia:

  • 2–3 xícaras/dia (intervalo de 4h entre elas).
  • Duração: Até melhora dos sintomas (máximo 5 dias consecutivos para chás laxativos como sene).

—> 3. Dieta Cetogênica de Baixo Resíduo (para Crises Agudas)

Objetivo: Minimizar fermentação intestinal e inflamação através de:

  • Baixo teor de carboidratos (reduz FODMAPs).
  • Alta densidade nutricional (repara a mucosa).

Alimentos Permitidos (Priorizar):

  • Proteínas: Frango, peixes, ovos (moles).
  • Gorduras: Azeite, óleo de coco, manteiga ghee e/ou artesanal.
  • Vegetais: Espinafre cozido, abobrinha sem casca, pepino.
  • Condimentos: Sal marinho, orégano, alecrim.

Alimentos a Evitar:

  • Laticínios, grãos, açúcares, adoçantes artificiais, fibras insolúveis.

Exemplo de Cardápio para 1 Dia:

RefeiçãoOpções
Café da ManhãOvos mexidos com ghee + chá de hortelã.
AlmoçoPeixe cozido com azeite + abobrinha refogada.
LancheCaldo de ossos caseiro + 1 colher (sopa) de óleo de coco.
JantarFrango desfiado com espinafre cozido e azeite.

—> 4. Protocolo Integrado de 24–72 Horas (Para Crises Intensas)

Dia 1:

  • Jejum intermitente 16h (se tolerado) + água com sal ao acordar.
  • Refeições: Apenas caldo de ossos + óleo de coco (3x ao dia).
  • Chás: Hortelã + camomila (intervalos de 3h).

Dia 2–3:

  • Dieta cetogênica líquida/semi-líquida (sopas batizadas, smoothies com abacate).
  • Incluir probióticos (Saccharomyces boulardii – 5 bilhões UFC/dia).

5. Precauções e Contraindicações
  • Água com sal: Evitar em hipertensos ou pacientes com doença renal.
  • Chás: Sene é contraindicado para gestantes e uso prolongado.
  • Dieta cetogênica: Monitorar em diabéticos (risco de hipoglicemia)


Importância da reeducação alimentar e novos hábitos

A Síndrome do Intestino Irritável é um distúrbio complexo que exige uma abordagem multifatorial. Enquanto a medicina convencional oferece alívio sintomático, estratégias naturais – como dietas carnívoras, cetogênicas e jejum intermitente – atuam na causa raiz, promovendo o reequilíbrio microbiano e a reparação intestinal.

A redução do consumo de álcool e alimentos industrializados, aliada a uma dieta anti-inflamatória e ao gerenciamento do estresse, pode transformar a saúde intestinal. Em resumo, a integração entre medicina tradicional e abordagens baseadas em evidências modernas oferecem o caminho mais eficaz para o controle sustentável da SII.


Referências Bibliográficas
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  • Neurogastroenterology & Motility. “Brain-gut axis dysfunction in IBS: the role of stress and cortisol.” 2022, v. 34, n. 4, e14256. DOI: 10.1111/nmo.14256.
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  • Journal of Clinical Medicine. “Nicotine replacement therapy combined with probiotics for smoking cessation in IBS patients: a pilot study.” 2023, v. 12, n. 5, p. 1892. DOI: 10.3390/jcm12051892.
  • Nutrients. “Comparative effectiveness of low FODMAP, ketogenic and carnivore diets in IBS management.” 2023, v. 15, n. 8, p. 1950. DOI: 10.3390/nu15081950

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